No final do ano passado eu estive no Sertão de Pernambuco fotografando, pela segunda vez, uma ação social e teve um fato que me chamou a atenção em relação ao ano anterior. Foi colocado um brinquedo, este da foto, no pátio de uma escola. As crianças estavam muito mais felizes que no ano anterior. Entendi que criança tem uma única obrigação, a de brincar e se divertir.
Nossos filhos tem acesso a muitas facilidades, coisas que antes não tínhamos, tudo é lúdico e fazemos o possível para dar muito amor a elas. As cobranças começam bem depois. até os 5, 6, 7 anos elas devem apenas se divertir.
Infelizmente muitas crianças não têm este tratamento, não têm possibilidade de brincar, crescem escutando berros, vivenciando violência dentro de casa, alguns sendo espancados por nada, outros que nem casa tem, não conhecem o pai e têm raros, raríssimos momentos de felicidade. E estas mesmas crianças também crescem, viram adolescentes, adultos. Não têm nenhum referencial do que é certo ou errado e encontram nas drogas um consolo ou fuga, depois começam a cometer pequenos delitos e a coisa só tende a piorar.
O fato que hoje está dominando nosso país, do menino João Hélio, tem mostrado que nossa sociedade está indignada com o que aconteceu. E é chocante, prefiro nem falar sobre o assunto, não quero saber dos detalhes, mas sinto que há uma vontade de vingança, de resolver um problema com uma solução simples, rápida. Diminuindo a idade penal, aumentando a pena, alguns até pensam na pena de morte. Acredito que a lei deve ser atualizada, revista e assim deve ser sempre, para isso temos juristas e autoridades. Se são eficientes ou não é outro problema, são os que temos.
Mas, alguém está preocupado em não criar monstrinhos no futuro?
Muitas crianças estão crescendo da mesma forma que estes delinqüentes cresceram. É triste, mas não se fala como começou tudo isso. O mais fácil é punir, enfia-los nas cadeias, que apodreçam e morram por lá. Mas um dia a coisa explode, nasce uma nova facção criminosa e acabam invadindo as ruas, promovendo uma barbárie. Então ficamos todos acuados, reféns, indignados, culpamos as autoridades e assim vamos "resolvendo" nossos problemas, passando a culpa para o outro.
Resolver este problema de uma hora para outra é uma grande ilusão, não há solução a curto ou médio prazo. Mas podemos fazer pequenas coisas. Por exemplo, explicar para nossos filhos que eles não precisam ter um armário cheio de brinquedos, que aqueles brinquedos que só estão fazendo volume no quarto podem fazer outras crianças felizes e assim, ensina-los a compartilhar. Façamos pequenos atos em favor dos outros. Coisas simples, ninguém tem obrigação de mudar o mundo, é cada um fazendo um pouquinho.
Gritar e ficar indignado com este absurdo não vai mudar nada, apenas os jornais vão aumentar as vendas. Eles adoram tragédias. Tragédia é o que mais vende, e quanto mais vender mais notícias e desdobramentos serão publicados, até surgir outro fato.
Se quiser fazer algo verdadeiro, faça o bem. Faça algo que você não faz todo dia, doe um brinquedo a quem não tem, sorria para uma criança de rua. Faça a sua parte e incentive, sem obrigar, o outro a fazer também. Não precisa gastar dinheiro, tão pouco espere ser reconhecido por isso, mas faça a sua parte.